Fui a Marrocos pela primeira vez em Setembro de 1985. No meu livro falo desta missão de que fui encarregado, um dos trabalhos mais interessantes e desafiantes que já tive até hoje.
Tratava-se de procurar recuperar e pôr de novo a funcionar uma organização de programas interculturais para jovens que tinha encerrado, salvo erro, dez anos antes.
Como explico com mais detalhe no Facing Challenges indicaram-me o país, o antigo nome da organização e o nome de uma pessoa que, localmente, me poderia ajudar. Deram-me até dois anos para resolver o assunto, atendendo a que, na altura, a minha atividade regular era em Portugal e aprovaram o orçamento e plano de acção que lhes apresentei.
O meu contacto chamava-se Boubker Mazoz. Trabalhava na Embaixada dos Estados Unidos em Casablanca, conhecia a organização internacional que eu representava e tinha bons contactos.
Devo dizer que foi, em grande parte, responsável pelo êxito da minha missão.
Durante as minhas visitas a Marrocos, que nunca podiam ser muito longas pois mantinha a minha atividade em Portugal, fui várias vezes a sua casa onde era sempre muito bem recebido por ele, sua mulher e uma filha ainda pequena.
Tendo percebido que eu era um apreciador de literatura e também tendo consciência do meu grande interesse por línguas, culturas e religiões diferentes da minha recomendou-me certo dia um autor de que nunca ouvira falar. Chamava-se Amin Maalouf e tinha escrito pouco antes, salvo erro em 1983, Les Croisades vues par les Arabes.
Claro que o simples título do livro me deixou logo de água na boca e tratei de o adquirir numa livraria que o Boubker me indicou. O livro tem, para quem se interessa por factos históricos, o enorme interesse de nos mostrar o ponto de vista oposto àquele de que estamos habituados a ouvir falar.
E foi assim que tornei grande apreciador deste autor e do seu estilo de romance histórico com alguns pontos de contacto com escritores como o Umberto Eco ou o Orhan Pamuk.
Não li todos os seus livros, mas recomendo os que li: Samarcanda, Leão o Africano e O Naufrágio das Civilizações.
Acabei ontem de ler A Odisseia de Baldassare, um comerciante genovês que, na busca de um livro intitulado O Centésimo Nome, percorre grande parte do mundo ocidental conhecido na altura.
Anda primeiro por Constantinopla e Esmirna. Atravessa o Mediterrâneo tocando, ainda por pouco tempo, em Lisboa no trajeto para Londres onde lhe indicam que poderá encontrar o livro.
É apanhado pelo Grande Incêndio e foge, atravessando França e regressando finalmente a Génova, pátria da sua família mas onde nunca estivera por muito tempo.
E tudo isto para descobrir se era verdade que no “Ano da Besta”, 1666, o mundo ia de facto acabar.
Recomendo a sua leitura.
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