A Expo 98 foi sem dúvida o mais importante evento realizado em Portugal desde que nasci. Pode haver quem fale do Euro 2004 ou do Festival da Eurovisão. Podemos ainda recordar a XVII Exposição, a Ponte Salazar, mais tarde 25 de Abril, a Ponte Vasco da Gama ou, por exemplo, o CCB. Mas quanto a mim nada se compara a esta iniciativa, que tinha todos os ingredientes para correr mal.
Para começar, não somos famosos pelos nossos dons de planeamento e cumprimento de prazos e não podia haver desculpas, uma vez que nos comprometemos.
Depois a tarefa era hercúlea. Tratava-se de pegar na zona mais degradada de Lisboa, sob todos os aspetos, ladeada por um troço de rio totalmente poluído e transformar o patinho feio num cisne.
Havia ainda outro grande desafio: Toda a gente falava no que acontecera em Sevilha, quando a Feira Universal deles fechou. Era importante que o mesmo não viesse a acontecer em Portugal. E de facto não aconteceu. Todo o planeamento teve em conta a forma como o espaço e as construções nele existentes iriam fazer a transição para uma zona residencial.
O facto é que hoje em dia o Parque das Nações é uma das zonas de Lisboa mais procuradas e os seus residentes manifestam o agrado de viver num espaço amplo, moderno e limpo.
O Euro 2004 também foi exemplar no cumprimento dos prazos e na qualidade da organização. Mas que dizer dos gastos inúteis em estádios que hoje em dia raramente são utilizados e cuja manutenção é dispendiosa e não acessível a muitos dos clubes a que estariam ligados.
Na Expo 98 havia pavilhões de países de todo o mundo, todos diferentes a atraentes. Creio que foi a Feira Universal com maior representação de sempre. Mas havia também os pavilhões dedicados à Ciência, um teatro, espaços para espetáculos de todo o género e um Oceanário que ainda hoje é considerado um dos melhores do mundo.
Havia ainda zonas de alimentação de todos os tipos com representação da culinária mundial. O transporte no seu interior vastíssimo era assegurado por carrinhos elétricos não poluidores e silenciosos. Um teleférico permitia beneficiar de uma vista geral do espaço, de forma confortável. Havia ainda um cuidado com a limpeza geral de todo o espaço como nunca tinha visto em Portugal, nem infelizmente voltei a ver.
Todos os dias havia um desfile do mais original a que alguma vez assisti. Carros alegóricos, máquinas estranhíssimas e criaturas ainda mais estranhas desfilavam ao final da tarde, suscitando enorme interesse junto dos visitantes.
E para terminar todas as noites a Expo encerrava com o Acqua Matrix, um espetáculo deslumbrante que conjugava jogos de água com fogo de artifício.
Devo dizer que fui lá várias vezes e nunca me fartei.
Tive a sorte de poder fazer uma visita integral ao espaço numa altura em que havia muito menos visitantes. O dia inaugural teve várias cerimónias oficiais e convidados de honra, pelo que o grande público só começou a aparecer no dia seguinte.
Um dos pavilhões que contaram com a presença de convidados especiais na sua inauguração foi o da Alemanha. O Presidente da República, Roman Herzog, deslocou-se a Portugal para o efeito. Como eu era Presidente da Associação de Cooperação Portugal – R. F. Alemanha fui um dos convidados para a cerimónia inaugural.
No final da cerimónia tentaram convencer-nos que teríamos que nos retirar, pois apenas tínhamos sido convidados para a inauguração do Pavilhão. Para mim era impensável perder uma oportunidade como aquela de visitar toda a Expo quase sem gente, com todo o espaço à minha disposição.
Consegui o que pretendia e visitei praticamente tudo o que desejava, embora alguns pavilhões nacionais só tivessem ficado concluídos mais tarde.
Foram 17 horas a percorrer o espaço todo a pé. Ora eu tinha ido para a cerimónia inaugural do pavilhão de fato, gravata e sapatos pouco adequados a grandes caminhadas. Não podem imaginar o meu cansaço e o estado dos meus pés no dia seguinte!
Houve muita gente que fez críticas antes, durante e mesmo depois. Mas gostava que me mostrassem outra iniciativa no nosso país desta magnitude, que tivesse produzido uma alteração tão grande numa cidade, direi mesmo, no país. Tive a sorte de ter visitado de forma bastante completa este extraordinário evento mundial.
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