Espero conseguir concluir as minhas histórias com comboios hoje. Já devem começar a ficar fartos.
A Grécia é o país que se segue. Embora lá tenha estado muitas vezes só me recordo de um episódio com comboios, e foi relativamente recente. Em 2014 fui finalmente a Meteora, um local cuja visita recomendo vivamente, seguindo depois para Volos, para visitar o Pelion. Vou transcrever o episódio que está relatado nomeu livro:
O táxi que me devia levar à estação apareceu tão atrasado que já não acreditava que iria apanhar o comboio. Parou em frente à porta da pequena estação e vi, do lado da linha, um comboio que se preparava para partir. Atravessei a estação a correr e o comboio começou a andar lentamente. Atirei o meu saco pela porta, que estava aberta e saltei lá para dentro, falhando por pouco. Respirei fundo e voltando-me para as pessoas que estavam todas a olhar para mim perguntei: Este comboio vai para Larissa? Larissa era o local onde teria de mudar para outro comboio para Volos.
Não, foi a resposta.
Tinha havido uma alteração nos comboios naquele dia!
O livro ajudou-me a recordar que nessa viagem também fiz a viagem de Atenas a Kalambaka, no sopé de Meteora, de comboio. Foi uma viagem de 5 horas e meia num comboio idêntico aos que víamos em Portugal algumas décadas atrás. Ao longo do percurso passámos por vários locais onde apodreciam centenas de comboios velhos, numa espécie de cemitério ao ar livre.
Na Turquia, país que eu devo ser um dos portugueses que lá foram mais vezes, 18 se não me falham as contas, só me lembro de ter andado uma vez de comboio. Foi em Julho de 1981, quando decidi ir conhecer a Capadócia. Apanhei um comboio noturno em Istambul tendo chegado na tarde do dia seguinte a Ankara, a capital, uma cidade que considerei muito pouco interessante.
Em Ankara vale a pena visitar o Museu Hitita e, que remédio, ir ver o horrível Mausoléu de Ataturk. Curiosidade inesperada, à noite, num restaurante, na rádio cantavam o Malhão em Turco!
Há quem ache que eu já viajei muito, mas em África apenas estive em dois países: Angola e Marrocos. Mas em Marrocos tive uma das mais interessantes missões que já tive até hoje, o que me permitiu ir lá algumas vezes e percorrer uma boa parte do país, quase sempre de comboio.
Em 1985 e 86 fui várias vezes a Marrocos para desenvolver um projeto para o qual tinha grande liberdade de mãos, desde que obtivesse o resultado pretendido. Como estava a criar uma organização de caráter nacional, tive a oportunidade de visitar as principais cidades do país tendo a quase totalidade das viagens sido feita de comboio.
Os comboios não eram muito diferentes dos portugueses naquela altura, tirando o facto de terem uma terceira classe extremamente barata e com um aspeto pouco convidativo.
A minha base era sempre Casablanca, mas daí eu fui para Fez, Meknés, Rabat, Marrakesh e Safi, entre outras. Os marroquinos gostam de falar com estrangeiros e no compartimento em que ia acabavam sempre por meter conversa comigo. Muitas vezes pensavam que eu era francês, mas quando descobriam que era português tornavam-se mais cordiais. Problemas coloniais.
Não referi Rabat, porque ficando bastante próxima de Casablanca ia lá frequentemente. O percurso de uma hora era feito num comboio rápido a que chamavam Aouita. Trata-se do nome de um corredor marroquino que ganhou várias medalhas e bateu recordes no meio-fundo. Um herói nacional.
Certa vez que ia para Fez no meu compartimento ia uma senhora que levava um livro de viagens sobre Portugal. Disse-me que era um país que tencionava conhecer e disse-me para a visitar em Fez. Assim fiz. A senhora e o marido eram professores universitários e foram extremamente acolhedores. Quando referi que ainda não tinha arranjado hotel em Fez um colega que estava presente ofereceu-se imediatamente para me dar alojamento. Na maior parte dos países isto nunca teria acontecido.
Marrocos foi um dos países de gente mais acolhedora que encontrei até hoje.
Bom, para terminar vamos atravessar o Atlântico e entrar nos Estados Unidos. Que me lembre, só lá andei de comboio uma vez (o comboio na Disneyland não conta).
Em Setembro de 1999 ia participar num congresso em Telluride, no Colorado, mas antes disso aproveitei para conhecer melhor este Estado, um dos mais bonitos dos Estados Unidos. Isso incluiu uma viagem num comboio histórico de Durango a Silverton, uma daquelas cidades que foram criadas durante a febre da prata, como o nome indica, mas também do ouro e depois se tornou quase fantasma.
Foi um trajeto de montanha, normalmente vendo-se o rio mais abaixo, numa paisagem deslumbrante.
Uma excelente forma de terminar estas histórias da minha vida relacionadas com comboios.
Comments