A SIC começou ontem a transmitir um programa sobre grandes viagens de comboio a seguir ao noticiário das 20h00. Sou e sempre fui um grande apreciador de viagens de comboio, pelo que me deliciei com o que mostraram ontem e hoje lá estarei para ver mais.
Ao longo da minha vida já andei bastantes vezes de comboio, mas infelizmente nunca fiz uma daquelas viagens de sonho que foram mostradas no programa.
No entanto já tive alguns episódios interessantes e sobretudo em locais muito variados, pelo que vou tentar fazer aqui um breve apanhado dessas viagens. Algumas constam também no meu livro “Facing Challenges” mas retirei apenas os pormenores relativos aos comboios.
Grande parte dos episódios que aqui vou relatar ocorreram há muitos anos num estilo de comboios de que hoje já se encontram poucos, na maior parte dos casos em países menos desenvolvidos, mas alguns ainda preservados em Portugal.
Vou começar com as minhas duas primeiras viagens de comboio longe da família. Fizeram parte das viagens de ida e de regresso durante o programa de um ano nos Estados Unidos que fiz em 1956-57.
Eramos 8 rapazes portugueses que partiam sozinhos para uma grande aventura. O destino final eram os Estados Unidos, mas a primeira fase da longa e complicada viagem foi feita de comboio de Lisboa a Madrid. Nunca poderei esquecer os pais em Santa Apolónia, ansiosos e preocupados a saberem que só daí a um ano voltariam a ver os seus filhos. O resto da viagem até ao destino final fez-se de avião e de barco.
No regresso o barco deixou-nos em Ostende onde recebemos indicação para apanhar determinado comboio que nos ia trazer até Lisboa. Ao fim de um ano em que tínhamos amadurecido e tornado mais desembaraçados a viagem foi uma animação pegada. Durante três dias voltamos a falar apenas Português, coisa que já não fazíamos há um ano.
Nesse comboio viajava um jovem indonésio, Supandi, que vinha conhecer Portugal. Com o à vontade adquirido na América convidei-o logo para ficar em minha casa, pelo que os meus pais, que aguardavam ansiosamente a chegada do filho, tiveram a surpresa, depois dos abraços e beijos, de me ver virar-me para o lado e dizer “Este é o Supandi que eu convidei para ficar lá em casa”. E ficou, durante alguns dias.
Em Portugal quero apenas realçar a diferença entre as viagens há muitos anos naqueles comboios de cabines para seis pessoas, sentadas frente a frente, e um corredor ao longo de todo o comboio e os comboios Alfa, únicos que utilizo sempre que há essa possibilidade.
Recordo o tempo em que havia um serviço de transporte de carros que eu utilizava nas viagens entre Lisboa e Porto. Esse serviço também existiu durante algum tempo para Faro e para Castelo Branco, mas já foi cancelado há bastante tempo.
Num passeio que fiz no Douro há cerca de dois anos fiz a ida do Porto a Régua de comboio, um trajeto bastante bonito, e o regresso ao Porto no barco.
Num grande passeio de 3 dias que organizei para a Associação Portugal-Alemanha também houve uma componente muito interessante que foi a ida da Régua ao Pinhão num comboio histórico que tinha começado a funcionar nessa altura.
Para Espanha usava, há muitos anos, o Lusitânia. Era um comboio com carruagens cama que fazia a viagem durante a noite chegando a Madrid no dia seguinte, pela manhã. Normalmente escolhia um compartimento duplo, ficava mais barato, sempre na esperança que o segundo leito não fosse ocupado. Tive sempre a sorte de não ter que aturar um desconhecido na cabine.
Para ir até Paris usei algumas vezes o Sud Express, que tinha a particularidade de nos fazer mudar de comboio em San Sebastian para passarmos do que era a bitola ibérica para a bitola europeia. Hoje em dia já só em Portugal é que ainda não existem carris compatíveis com o resto da Europa, com o prejuízo inacreditável que isso nos traz.
Espanha há já bastante tempo o AVE, com excelentes comboios rápidos e confortáveis. Já fiz o percurso entre Madrid e Sevilha nesses comboios.
Num dos capítulos neste Blog sobre Barcelona relato os episódios que ocorreram certa vez numa viagem de regresso a Lisboa.
Já percebi que vou ter ainda muito que contar sobre as minhas viagens de comboio. A maior parte delas foram na Europa, mas tenho também várias histórias de Marrocos, uma na Anatólia e outra num percurso espetacular nos Estados Unidos. Creio que vou ficar por aqui.
No próximo capítulo irei falar sobre viagens em França, Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido, pelo menos. Mesmo assim ainda vai ficar muito por contar.
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