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Foto do escritorantvaladas

Crime no Moinho

A Isabel sempre me falou da sua paixão por moinhos, pelo que decidi um dia fazer-lhe uma surpresa. Isto passou-se há bastante tempo, talvez no início deste milénio, numa altura em que o turismo de habitação e o alojamento local não estavam difundidos e banalizados como estão hoje em dia.


Após cuidadosa pesquisa descobri um moinho em Palmela que correspondia exatamente ao que eu procurava. Num monte com vista de 360º e bem perto do castelo de Palmela.

Na sexta-feira ao fim da tarde lá fomos até ao local e como esperava, a Isabel ficou encantada. O moinho tinha três pisos, ou talvez melhor dizendo dois pisos e meio.


Em baixo ficava o espaço para refeições com cozinha e uma casa de banho, a meio caminho para o piso superior ficava um recanto que podia funcionar como sala e por cima ficava um quarto bastante espaçoso.



A decoração era adequada ao espaço, a vista era de facto soberba e havia bastante espaço à volta para deixar o carro estacionado.

Fomos até Setúbal ao final da tarde e deliciamo-nos com um jantar de ostras e champagne num restaurante que eu tinha descoberto, em plena Avenida Todi. Devo acrescentar que nesse mesmo dia, ao fim da manhã, tinha arrancado um dente pelo que, seguindo a recomendação do dentista, comi com certo cuidado.


Na manhã seguinte acordei com um grito da Isabel que olhava para mim horrorizada! Sentia algo pastoso na cara e pescoço e de repente reparei que almofada e lençóis estavam vermelhos. E não era pouco!


Acontece que durante a noite a gengiva do dente arrancado sangrou, e não foi pouco. Quem entrasse no quarto e olhasse para a cama iria pensar que ali tinha sido cometido um crime

Claro que o nosso primeiro pensamento foi “E agora, como é que vamos limpar isto? O que é que os donos do moinho irão pensar que aconteceu aqui?”


Atendendo ao facto de o sangue estar sobretudo nas almofadas e nos lençóis no lado da cabeceira começamos a especular sobre a interpretação que poderia ser dada ao acontecimento e acabamos a rir à gargalhada com as ideias que nos surgiram.


Mas era preciso evitar que o proprietário, ao chegar ao local, não deparasse com aquele espetáculo. A Isabel é uma ótima dona de casa pelo que aprendi que existe uma coisa chamada “lixívia para roupa delicada”, adoro a designação, que limpou quase completamente os vestígios sangrentos das fronhas e lençóis.


Não voltei a sangrar, pelo que o resto do fim-de-semana decorreu agradavelmente com passeios por Palmela, Arrábida e Setúbal e ótimas refeições. Domingo à tarde entregamos a chave ao proprietário, que achou que estava tudo em condições.

Devo explicar que a Isabel tinha descoberto um baú com roupa de cama pelo que tinha substituído as “roupas assassinas” por roupas acabadas de lavar, pelo que só já muito mais tarde é que terão chegado às roupas que tínhamos colocado no fundo do baú.


Foi um fim-de-semana inesquecível e hoje em dia, quando passamos perto de um moinho lembramo-nos sempre do episódio do “Crime no Moinho”, um ótimo título para um livro da Agatha Christie.


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