Ainda não tinha visitado nenhuma ilha grega. Pedi aos meus amigos gregos que me indicassem uma ilha agradável, mas que ainda não tivesse entrado no circuito turístico internacional. Indicaram-me Zakynthos.
Em Setembro de 1979 fiz a viagem de barco de Kilini até à ilha. Quando desembarquei julguei que tinha chegado à ilha da Bela Adormecida. Nada mexia, não havia pessoas nas ruas nem nas esplanadas. Fui deixar a mala no pequeno hotel onde tinha feito a reserva e voltei a sair para explorar. Nada, ninguém! Desanimado voltei para o quarto e decidi descansar da viagem, feita à torreira do sol.
Acordei pelo final da tarde e ouvi um rumor intenso que me entrava pela janela. Fui espreitar. As ruas estavam cheias de gente que ia e vinha, conversava e ria, com ar animado. Percebi depois: era a famosa sesta dos gregos, que nesta ilha abrangia toda a população.
Faço um parêntese para explicar mais este hábito grego que não sei se ainda se mantém após a adesão à EU. Na Grécia as pessoas dividiam o dia em duas metades. Levantavam-se cedo, começavam a trabalhar muito cedo e faziam horário corrido. Pelas 3 da tarde iam para casa, almoçavam e iam dormir. Ao fim da tarde voltavam a sair, jantavam a uma hora espanhola e deitavam-se tarde. Como já tinham dormido à tarde não precisavam de muitas horas de sono à noite.
A ilha é plana no meio, quase integralmente rodeada por montanhas. Aluguei um carro e fui visitar a família de um companheiro da viagem de barco. Foi uma experiência muito interessante, no meio de uma família rural que me acolheu da forma mais hospitaleira e que apenas falava Grego. Mesmo assim discutimos tudo, da política ao futebol.
Nos dias restantes aluguei uma motorizada para ter uma certa autonomia, pois a carreira de autocarros apenas circulava ao princípio da manhã e ao fim da tarde. Escolhi Porto Roma como a minha praia. Calma, a água uma delícia. Foram uns dias tranquilos e bem passados.
Vou agora contar o episódio da motorizada. Quando a fui alugar a rapariga perguntou-me se sabia andar e eu disse-lhe que sim. Já tinha andado de bicicleta e achei que ia ser a mesma coisa. Só que nem sabia como é que se punha a trabalhar. Chamei a rapariga, que me olhou desconfiada.
Tive que lhe explicar que em Portugal as motorizadas eram diferentes, calando o facto de que acabava de verificar, com surpresa, que era uma Casal. Lá arranquei mas pouco mais á frente aquilo entupiu e tive que parar. Por sorte em frente a uma esplanada de onde logo um grupo de jovens veio prontificar-se para me ajudar. Tive que explicar-lhes que não sabia mexer naquilo e recebi um “crash course” que me foi útil para os dias restantes.
Certo dia, numa descida para a praia fiz uma curva a direito. Aterrei numa moita cheia de arbustos com espinhos, mas a motorizada também ficou ligeiramente torta. Lá endireitei aquilo o melhor que soube e a rapariga não deu por nada quando a devolvi. Tirando isso correu tudo bem.
Mais tarde voltei ainda uma vez a Zakynthos e ao longo dos anos visitei várias ilhas. Mas evitei sempre as que já eram demasiado turísticas. Tentei sempre manter o meu espírito de viajante.
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