Döstädning é uma palavra sueca que significa “death cleaning”. Não faço a tradução para Português porque soaria demasiado tétrico. Trata-se de uma ação de limpeza na nossa casa eliminando tudo o que temos e que não nos faz falta, evitando deixar esse trabalho para os nossos descendentes.
É extraordinário constatar a quantidade de “tralha” que vamos acumulando ao longo dos anos e pelas mais variadas razões.
Há aquelas coisas que, na realidade, não nos fazem falta, mas adquirimos porque poderiam um dia vir a ser necessárias, há os monos que nos ofereceram e de que não podemos livrar-nos sem ferir quem os ofereceu, há os “recuerdos” das nossas viagens, comprados porque é preciso levar uma recordação, mas que mais tarde verificamos que não sabemos onde os havemos de colocar.
E depois há as mobílias, loiças e todo o tipo de decorações caseiras herdados, que ainda poderão ter algum significado para nós, mas não irão significar nada para os vindouros.
Além de que, neste último caso, alguma peças mais volumosas nos levaram a alterar o estilo da decoração das nossas casas, deixando estas de refletir o nosso gosto e a nossa maneira de estar.
Numa fase da minha vida em que, sem ter deixado por completo a minha atividade profissional dispunha de muito mais tempo livre, decidi começar a proceder a uma limpeza na minha casa.
Comecei pelos livros. Sou um leitor compulsivo e agradeço á minha mãe ter-me ensinado a ler quando tinha 4 anos. Nunca mais parei desde então. Para além dos livros que fui adquirindo ao longo dos anos, tive que acrescentar algumas centenas mais que vieram de casa dos meus pais e dos meus tios.
A certa altura descobri que, mesmo que até ao fim da minha vida passasse 8 horas por dia a ler nunca conseguiria ler todos os livros que já tinha.
Foi por essa razão que a partir de certa altura comecei a evitar ir à Feira do Livro. Antigamente levava sempre um saco e quando regressava a casa o saco vinha cheio.
Já consegui despachar largas centenas, inclusivamente aqueles que nem sei por que razão os tinha guardado.
A seguir aos livros decidi dar uma volta a tudo o que tinha em excesso, sobretudo aquelas coisas que um dia, quando eu falecer, apenas iriam constituir mais um estorvo para os meus herdeiros.
Comecei com as fotografias. Com toda a minha atividade profissional e todas as viagens que fiz, acabei por ter uma imensidão de fotografias, muitas das quais apenas para mim teriam algum significado.
Constatei que, de uma forma desorganizada, tinha seis gavetas, dois gavetões e três prateleiras com fotografias. A escrita do livro levou-me a dar uma volta completa às gavetas. Organizei-as por temas, digitalizei as mais significativas e deitei fora a maior parte.
Entre as fotografias herdadas havia umas, as mais engraçadas, aliás, de uns senhores, senhoras e crianças com um ar e umas roupas que fariam as delícias do guarda-roupa de um filme de época. Despachei-as.
O problema é que, para além destes dois items, os mais significativos, ainda há muitos outros que decidi que, na devida altura, irão ser objeto de eliminação. Estão nessa lista uma infinidade de bibelots que atulham alguns móveis como, por exemplo, a minha coleção de elefantes ou de ferros de engomar. Acho que vou ter que fazer o equivalente a uma “garage sale” um dia destes.
Se algum dos leitores destas linhas quiser dar uma ajudinha nas arrumações ainda pode ser que leve alguma coisinha como brinde, com os meus cumprimentos.
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