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... E fiquei sem almoçar!


Já escrevi bastante sobre Embaixadas e Embaixadores, mas guardei para o fim esta história que venho agora partilhar convosco.

Um dos programas que a MultiWay promovia com sucesso era o Programa Au Pair. Permitia a raparigas com experiência em tomar conta de crianças irem passar um ano aos Estados Unidos, vivendo com uma família que tivesse crianças pequenas. O trabalho não era pesado porque, ao contrário de certos programas de que já ouvimos falar, girava todo à volta das crianças ou jovens, não do serviço doméstico.


As condições eram aliciantes e nunca entendi por que razão não se inscreviam muito mais raparigas. Pagavam-lhes a viagem de ida e volta, tinham alojamento completo na família de acolhimento e semanada para as despesas pessoais. Deviam ter um bom domínio do inglês, carta de condução e frequentar algumas horas por semana um curso à sua escolha. E isto tudo contra o pagamento de uma taxa de inscrição de, salvo erro, € 300.


Havia muita gente que até desconfiava, mas tratava-se de um programa internacional controlado pelas entidades oficiais dos Estados Unidos que não permitiam quaisquer falhas ou quebras nas condições exigidas e oferecidas.


Certo dia recebi uma chamada da Embaixada dos EUA. Era a Secretária do Embaixador que me perguntou se continuávamos a promover esse programa em Portugal. Confirmei e então ela disse que o Embaixador, cuja permanência em Portugal se aproximava do termo, pretendia levar consigo uma determinada rapariga portuguesa para continuar como Au Pair dos seus filhos na sua residência na Florida, mas não sabia como devia proceder.


O Embaixador quer levar alguém para os Estados Unidos e é a mim que vem perguntar como deve proceder? pensei eu. Que estranho! Mostrei-me disponível para prestar informações, mas continuei intrigado.


Passados uns dias, novo telefonema. O assunto era do interesse da Embaixatriz que pretendia ajudar uma rapariga, filha da senhora que trabalhava na Embaixada, a ir frequentar uma universidade americana. Mas precisava de um pretexto para o fazer e, conhecedora do rigor das leis americanas, achava que levando-a como au pair conseguia contornar a situação.


Para poder conversar comigo convidava-me para estar na sua residência oficial em determinado dia, pelas 13 horas.

“Convidado para almoçar na residência do Embaixador” pensei eu. Já lá tinha estado antes, mas sempre em eventos oficiais que envolviam a presença de imensa gente. Um convite individual era algo de inesperado.


No dia marcado lá fui, depois de escolher cuidadosamente o fato e a gravata a usar e à uma em ponto estava ao portão da casa na Lapa. O facto de ser um convite individual não impediu que o guarda à entrada me fizesse passar por todo o controle a que estava habituado noutras circunstâncias. Depois de verificar que não levava nenhuma bomba comigo lá me indicou a porta da residência por onde devia entrar.


Confesso que ia um bocado nervoso porque uma coisa é estar num almoço oferecido por um Embaixador em que está mais um grupo de pessoas e outra, completamente diferente, ser o único convidado.

Mandaram-me entrar para uma sala e disseram que a Embaixatriz já me ia receber. E entrou de facto na sala, passados uns momentos, descalça enquanto comia uma sanduiche.

Cumprimentou-me, mandou-me sentar num sofá e começamos a falar sobre tudo o que seria necessário fazer para a dita rapariga poder ser aceite num programa Au Pair.

Consegui manter sempre o ar profissional adequado à conversa e a pouco e pouco fui percebendo que aquilo era o almoço da Embaixatriz, que o ia comendo enquanto falava comigo. Ainda pensei “Daqui a pouco vai-me perguntar se quero uma chicken ou uma tuna sandwich”, mas nem isso aconteceu.


A conversa foi longa, pois ainda envolveu a rapariga em questão ser chamada à sala para eu a conhecer e ter depois ficado por ali a entreter os filhos da Embaixatriz que entretanto também tinham aparecido.


Regressei a casa já passava das três da tarde, cansado e esfomeado. Pelo caminho fui tirando a gravata e desabotoando a camisa enquanto pensava:

“Nem uma sanduichezinha de atum!”

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