Don’t tell me the problems you have faced, tell me the solutions you have found
Em 1976 decidi, com a colaboração de um grupo de jovens que tinham passado um ano no estrangeiro, criar uma associação a sério. Queria que fosse um projeto de todos nós. Aliás, nas reuniões ajudava-os a chegar às conclusões e a tomar as decisões mais adequadas.
Eu estava sempre presente, mas funcionava como elemento catalisador. Eles tinham que aprender a criar uma associação e assegurar o seu funcionamento e expansão futura.
Qualquer novo objetivo ou ideia era discutido numa sessão de brainstorming em que eu ia contribuindo com pequenas deixas mas aguardava que fossem eles a tomar a decisão final. E foi assim que se criou a Intercultura, com uma estrutura central, núcleos locais e uma grande variedade de iniciativas de âmbito local ou nacional.
Tinha os órgãos sociais obrigatórios em qualquer associação nos quais eu sempre fiz questão de não estar presente. No entanto foi criada para mim a posição de Secretário Geral, uma espécie de Diretor Executivo, pois como estava sempre no escritório era quem assegurava o funcionamento corrente de toda a associação.
Os principais problemas que enfrentávamos estavam relacionados com a angariação de fundos e com os apoios por parte de entidades oficiais. Tínhamos alguns objetivos ambiciosos, mas necessitavam de fundos e do acordo dessas entidades para poderem ser concretizados. Onde e como eram sempre objeto de grandes discussões.
Eu procurava “picar” um bocado aqueles jovens, mas muitas vezes voltavam-se para mim que tinha, no mínimo, mais vinte anos que os mais velhos e diziam-me que era impossível. Eu respondia-lhes sempre: Tudo o que é difícil dá trabalho, o que é impossível dá um bocado mais.
Outras vezes, durante uma reunião de avaliação do andamento de determinada tarefa diziam-me: “Eu fui lá, mas responderam-me logo que não e eu vim-me embora”.
Eu tinha sempre a mesma resposta para eles: “Um não não é o fim de uma conversa, é o princípio de uma argumentação. Com muita calma tentem saber as razões da resposta, tentem apresentar o objetivo de uma forma que sintam que vai mais ao encontro das ideias da pessoa com quem estão a falar. Vão ver que muitas vezes vão vir de lá com um sim.”
“As pessoas não querem ter mais trabalho, querem ver-se livres de vocês, acham-vos demasiado jovens. Mas se vocês forem firmes, mas educados, se mostrarem que estão seguros do que pretendem fazer, se demonstrarem que o vosso projeto pode ter interesse para a entidade com quem estão a contactar, vão ver que começam logo a olhar para vocês de outra maneira. Até vão gostar de ver gente tão jovem e já com ideias tão seguras e tanta firmeza nos seus objetivos.”
E foi assim que aqueles jovens foram descobrindo do que eram afinal capazes. E por essa razão ficaram meus amigos para toda a vida.
Também usava muitas vezes, junto aqueles que, por inércia, só levantavam objeções a tudo o que tentávamos fazer de novo, a frase com que inicio este artigo. Não me falem em problemas, descubram soluções.
Adorei trabalhar com aqueles jovens, vê-los crescer e singrar nos rumos que estabeleceram para si próprios. Ocasionalmente encontro um ou outro, alguns com posições de relevo. E nada me podia dar maior satisfação que constatar que triunfaram, cada um à sua maneira.
Nunca me poderei esquecer da vez em que, numa cerimónia oficial, a presidente de um importante instituto nacional me apresentou a um conhecido eurodeputado dizendo: “Apresento-lhe o António Valadas, a pessoa que me ensinou a trabalhar”.
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