Iniciei o ano de 2020 com imensos projetos em mente. Ia fazer 80 anos e tinha decidido que ia finalmente escrever e publicar o meu livro.
Os planos começaram logo a ir por água abaixo quando percebi que o problema Covid 19 não ia desaparecer de um momento para o outro.
Tinha pensado em organizar uma celebração como fizera para os 75 anos, mas um pouco diferente. Em 2015 tinha sido um jantar com cerca de sessenta pessoas, para 2020 planeava fazer uma festa mais informal, mas aberta a toda a família, amigos e antigos estudantes que quisessem aparecer. Já tinha começado a procurar espaços que me permitissem ter a festa tal como a tinha idealizado. E esperava que houvesse bastante gente a aparecer.
Como sabemos, não foi mesmo possível concretizar esse objetivo, com grande pena minha. Tinha idealizado estar com gente que já não via há muitos anos, há décadas mesmo.
Em relação ao livro tinha inicialmente pensado que iria aproveitar a festa de aniversário para fazer o seu lançamento. Como vim a constatar depois, esse objetivo teria sido impossível de concretizar e vou já explicar porquê.
Quando comecei a trabalhar no livro tinha apenas decidido que tipo de livro pretendia escrever. Não ia ser uma biografia, nem bem um livro de memórias. Ia consistir num conjunto de relatos sobre episódios da minha vida que me tinham marcado, ou que envolviam situações pouco usuais. Ou seja, situações em que eu tivera que enfrentar desafios. Daí o nome “Facing Challenges” que me agradava porque já o utilizara numa palestra que fizera em tempos.
Considerei a hipótese de se chamar “Enfrentar Desafios” mas o Facing Challenges já se tinha entranhado e, talvez porque quase todos esses desafios decorriam noutros países, o nome para mim fazia sentido.
Uma das minhas grandes preocupações quando comecei a escrever foi pensar “Mas será que eu vou conseguir encher ao menos 100 páginas?” Sentia que o livro iria ficar demasiado “magro” e embora não pretendesse que fosse demasiado volumoso gostaria que tivesse, no mínimo, 200 páginas. Como se sabe, acabou por ficar com cerca de 450.
Como é que isto foi possível? Sempre pretendi que o livro fosse escrito por mim, tivesse o meu cunho. Não queria, de modo algum, ter um “ghost writer” que pegasse nas minhas ideias ou me entrevistasse e depois escrevesse um texto dentro das normas por que se regem esse tipo de trabalhos. Não sou, nem pretendo ser, um escritor. Serei, quando muito, um contador de histórias, ou estórias, se preferirem. Eram histórias da minha vida que eu pretendia contar, mas escrevendo-as como se estivesse a conversar com amigos, a relatar as minhas aventuras.
Aliás, a insistência com que alguns antigos participantes nos cursos que eu promovia, bem como pessoas que, noutras circunstâncias, já tinham ouvido alguns dos meus relatos, insistiam dizendo que devia escrever um livro tiveram grande peso na decisão de o escrever.
Ora bem, não sei se acontece o mesmo com outras pessoas que escrevem (ia dizer outros escritores, mas seria pretensioso) mas à medida que ia escrevendo iam-me vindo à memória episódios em que nunca mais tinha pensado. Anotava-os e depois ponderava se valia a pena, ou não, inseri-los no livro. Alguns ficavam, outros não se justificavam. E foi assim que o livro chegou às 452 páginas ou, se preferirem, aos 750 gramas de peso!
Posso agora dizer, após o ter acabado de ler (não digo reler porque nunca o tinha lido todo de seguida como fiz agora) que tem muita coisa que eu agora teria contado de outra maneira, para além de alguns “gatinhos” dos quais é possível que alguns leitores nem se apercebam. Mas eu dei logo com eles.
De uma forma geral evito entrar em demasiados pormenores, descrições, explicações. O estilo, nalguns casos, pode ser considerado demasiado “seco”. Mas isso deve-se a ter sempre tido a preocupação, tanto a nível profissional como social, de não entrar em pormenores que não têm que ver com o tema a ser abordado.
Há também outro aspeto que os mais atentos e com hábitos de leitura vão detetar. Não tem um estilo uniforme. E a razão é simples. Há relatos de viagens que foram feitos logo após o regresso e que aproveitei sem praticamente introduzir qualquer alteração; há histórias baseadas em alguns apontamentos que foram completados como recurso à memória; episódios de quando eu era bastante jovem mereceram um esforço especial para tentar transmitir como é que foram sentidos na altura; e pequenos episódios que fui recordando, enquanto escrevia, e em que tentei honestamente relatar os factos tal como aconteceram.
Há muito mais considerações que gostaria de fazer sobre a elaboração deste livro, mas este texto já vai longo e vou deixá-las para a minha próxima intervenção neste blog.
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