Ao assistir à cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Tóquio decidi trazer ao conhecimento dos meus amigos um episódio que tenho a certeza de que mesmo os mais velhos desconhecem, ou não prestaram atenção na altura.
Em 1984 os Jogos Olímpicos de Verão tiveram lugar em Los Angeles entre 28 de Julho, dia em que fiz 44 anos, e 12 de Agosto.
Já em Agosto, o Board da European Federation for Intercultural Learning, de que eu fazia parte, reuniu em Jordans, no Reino Unido.
Já com os J.O. a decorrer em Los Angeles eu fiz uma afirmação que provocou sorrisos e ares de incredulidade por parte dos meus 6 colegas, cada um de seu país. Eu disse: Este ano o último hino por vitória que vai ser tocado na cerimónia de encerramento vai ser o português.
É preciso dizer que a cotação de Portugal no resto do mundo a nível desportivo era bastante baixa. Nunca tínhamos ganho uma medalha de ouro nos J.O..
Baseei esta afirmação em dois factos:
- Sabia que a última medalha a ser atribuída ia ser a da maratona masculina, já na cerimónia de encerramento, exatamente como aconteceu este ano.
- Tinha razões para acreditar no Carlos Lopes, poucos meses antes vencedor do Campeonato do Mundo de Corta Mato.
Acontece que o Carlos Lopes se reservava para as grandes competições que davam títulos, ao contrário de muitos atletas de outros países que participavam com regularidade noutras competições internacionais, sendo por isso muito mais conhecidos. Daí o ar com que os meus colegas da Direção reagiram à minha afirmação.
Tudo teria acontecido como eu tinha dito, mas surgiu um factor com que eu não tinha contado.
Na maratona os americanos apostavam tudo no Alberto Salazar e esperavam que fosse ele a ganhar a medalha de ouro. Ora este corredor foi-se abaixo na prova, tendo chegado em 15º lugar a cerca de 5 minutos do Carlos Lopes.
Quando se deram conta deste facto, os americanos, cujo patriotismo os torna por vezes pouco realistas, arranjaram forma de atrasar uma prova, já não me recordo qual era a modalidade, em que o ouro estava garantido.
E foi assim que assisti à chegada ao Estádio Olímpico do Carlos Lopes em primeiro lugar, à atribuição da medalha com hastear da bandeira e hino, mas depois disso à atribuição da última medalha ao vencedor, americano, da prova que os organizadores arranjaram à pressa de forma a terminar mais tarde.
E assim conseguiram que o Star Spangled Banner fosse o último hino nacional a ser tocado.
Eu estava certo em tudo o que dissera, mas os americanos trocaram-me as voltas nesse dia e eu nunca o esqueci.
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