O recente jogo de Portugal contra o Luxemburgo fez-me pensar que fui várias vezes àquele país e talvez valesse a pena tirar dessas visitas alguma história que valesse a pena contar.
Vou tentar ir um pouco além daquilo que os amantes de futebol ficaram a saber: Que quatro dos jogadores da seleção luxemburguesa tinham apelidos portugueses ou que o seu melhor jogador, que nos meteu um golo, nasceu no Pragal.
Pois então vamos a isto.
O Luxemburgo é uma monarquia tendo o seu governante o título de Grão-Duque. É um país pequeno a que não damos grande importância, mas tem os salários mais elevados da Europa.
Cerca de 14% da população é de origem portuguesa. Tive essa confirmação da primeira vez que lá estive, em 1976. Quando me preparava para descer do avião, os funcionários do aeroporto que estavam junto às escadas não me deixaram quaisquer dúvidas. Eram todas as palavras portuguesas que nos ensinaram que não se devem usar à frente de senhoras.
O país tem três línguas oficiais, Luxemburguês, Francês e Alemão, e uma que não é oficial mas aparece em grande parte dos letreiros, lojas, etc. O Português.
Nunca estive no Luxemburgo com o propósito de conhecer o país, mas como fui lá diversas vezes para reuniões de trabalho e o país é pequeno acabei por visitar vários pontos de interesse.
A capital merece mesmo uma visita. A parte antiga, então, é mesmo muito especial. As construções medievais, juntamente com o conjunto de fortificações que ficam sobre um vale cercado por penhascos formam um cenário digno de um filme. É apaixonante e a sensação que tive foi de estar num de conto de fadas.
O Chemim de la Corniche, ao longo das muralhas da cidade, oferece as vistas panorâmicas mais bonitas da Cidade de Luxemburgo.
E depois há as casamatas. São túneis e passagens subterrâneas que foram usadas para defender a cidade de ataques durante séculos. Dei uma volta completa pelo seu interior. É uma experiência a não perder.
Toda a cidade tem um ar calmo, pacífico e agradável. A qualidade de vida deve ser elevada, só que é talvez demasiado calma para o meu gosto pessoal. De todas as vezes que lá estive houve apenas um episódio que mereceu uma referência no meu livro. É relatado no capítulo intitulado “Dancei com um ministro”.
Nos anos 90 tive que ir lá várias vezes para reuniões relacionadas com os programas para filhos de emigrantes portugueses no Luxemburgo que estava a organizar. Devo referir que esses programas foram subsidiados, em grande parte, pelas entidades oficiais luxemburguesas.
De uma das vezes uma família portuguesa convidou-me para almoçar. Havia o inevitável bacalhau e o vinho era excecional. O dono da casa tinha um estabelecimento de alimentação e no final do almoço fez questão de me ir mostrar o seu armazém de vinhos, Tinha marcas que só nalguns estabelecimentos de luxo se encontram em Portugal.
Como disse, o Luxemburgo é muito pequeno. Como me contava uma amiga que trabalhava na União Europeia, mas num departamento que ficava no Luxemburgo, indo pela estrada não podia distrair-se pois de repente já estava em França, na Bélgica ou na Alemanha.
Certa vez houve uma Assembleia Geral da European Federation for Intercultural Learning, mais conhecida por EFIL, num local perto do bonito castelo de Vianden.
Um dos participantes, belga, teve que regressar à Bélgica mais cedo e, como tinha ido de carro com colegas, não tinha transporte próprio para o regresso. Descobriu que havia um comboio que lhe podia interessar, mas precisava que alguém o levasse à estação.
O colega que o tinha levado estava numa reunião que não podia abandonar, mas disse que não se importava que outra pessoa, que não estivesse ocupada naquele momento, levasse o carro. A minha colega Inge ofereceu-se e convidou-me para ir com ela, para não regressar depois à reunião sozinha.
Saímos a correr, não tínhamos muito tempo. A Inge, que é belga, achou que conhecia muito bem a estrada e, como é despachadíssima, lançou-se a grande velocidade. De repente vimos o que parecia um posto fronteiriço mesmo à nossa frente. A Inge soltou um palavrão. Podíamos passar pelo posto e dar a volta logo a seguir, para voltar para trás. Só que nessa altura a Inge deu-se conta de que não trazia a sua carta de condução nem tinha pedido os documentos do carro. E se nos mandavam parar e pediam identificação?
Em plena estrada e mesmo nas barbas dos guardas do posto fronteiriço fez meia volta e arrancou a grande velocidade. Eu só pensava “O que é que eles vão julgar? Que somos contrabandistas, fugitivos à polícia, ou qualquer coisa no género”.
Enquanto a Inge acelerava eu fui durante algum tempo a olhar para trás, a ver se estávamos a ser perseguidos pela polícia. Parecia uma cena do Bonnie and Clyde! Felizmente nada disso aconteceu e chegámos à estação mesmo a tempo de o nosso colega sair a correr e ainda apanhar o comboio.
Regressámos à reunião a tempo de iniciar uma sessão para todos os participantes em que tínhamos que estar presentes. Claro que contámos o que nos tinha acontecido aos colegas dos outros países.
Tinha sido bonito se a polícia nos tivesse apanhado, mesmo que, depois de muitas explicações, nos deixasse partir. É que nessa altura a Inge era a Vice-Presidente da EFIL e eu era o Presidente!
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