Estava a trabalhar no Comissariado do Turismo, antecessor da Direção Geral de Turismo que, por sua vez, antecedeu o Turismo de Portugal.
Era o ano de 1968 e Portugal era um destino que poucos estrangeiros procuravam. Eram os espanhóis durante a Semana Santa, os franceses na Nazaré, os britânicos na Madeira e também, com alguns nórdicos, a começarem a descobrir o Algarve.
Foi nessa altura que Portugal atingiu, pela primeira vez, os dois milhões de turistas. O Comissariado do Turismo decidiu que tinha que dar o devido relevo ao facto pelo que tudo foi preparado para tirar o máximo partido possível, com ampla cobertura pelos órgãos de informação.
Começaram por calcular a data aproximada em que chegaria a Portugal o turista dois milhões e elaborou-se um extenso plano de visitas por todo o país, tudo oferta do Turismo ao sortudo.
Agora não se podia deixar ao acaso a atribuição do título “dois milhões”. Era preciso evitar que fosse alguém com aspeto desagradável, que fosse um agregado familiar e, por outro lado, essa pessoa teria que dispor dos dias que iria durar a visita ao nosso país.
Puseram-se as Casas de Portugal em ação e foi da Alemanha que veio a indicação de quem seria a vencedora. Uma jovem na casa dos vinte e tais, alta e de aspeto agradável, chamada Marina.
No dia em que tudo estava preparado, com todos os órgãos de informação no aeroporto, descia do avião vindo de Frankfurt uma jovem que foi acolhida com grande entusiasmo e a quem foi “revelado” que era a turista 2.000.000 em Portugal naquele ano.
Claro que a Marina, já devidamente preparada, manifestou a sua “surpresa” e satisfação ao saber do prémio que tal acontecimento a fizera ganhar. Uma semana percorrendo os locais mais emblemáticos do nosso país.
A pessoa a quem foi atribuída a função de, em representação do nosso Turismo, acompanhar a Marina fui eu. Só que de repente deram-se conta de que eu era um jovem também na casa dos vinte que ia andar durante uma semana com uma jovem alemã.
O assunto foi rapidamente resolvido. Uma respeitável senhora que trabalhava nos serviços de informações ao público foi destacada para ser a nossa “chaperon”.
Corremos o país visitando alguns dos locais que, na altura, eram considerados mais atrativos para os turistas. Em todos os locais eramos recebidos pelas entidades oficiais locais, jornalistas e fotógrafos.
Tanto a Marina como eu, bastante jovens, começávamos a ficar fartos de discursos de Presidentes da Câmara e de cerimónias oficiais com jantares intermináveis e pouco divertidos.
A coisa estoirou em Viana do Castelo. Depois do jantar fomos até Santa Luzia onde inauguramos uma nova discoteca.
Pareceu-nos que seria a altura em que poderíamos divertir-nos um pouco, mas toda aquela gente, muito mais velha que nós, não nos largava. Com o pretexto de ir apanhar um pouco de ar conseguimos vir até cá fora e aí tomamos a decisão de desaparecer.
Foi o que fizemos e só voltamos a ser vistos na manhã seguinte. Claro que a cara com que olharam para nós no dia seguinte não foi exatamente a mais agradável. A partir daí passámos a ser cuidadosamente vigiados, para evitar nova fuga.
No final da visita a Marina regressou à Alemanha cheia de recordações e de prendas e eu regressei à minha rotina no Comissariado do Turismo.
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