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Foto do escritorantvaladas

Vi-me grego

Certo dia uma agência que me conhecia pediu-me para ser guia de um grupo de turistas gregos. Disseram-me que o guia que os devia acompanhar não se sentia bem e eu conhecia bem o percurso que pretendiam fazer. Era a primeira vez que servia como guia de um grupo grande.


Era uma experiência nova para mim. Explicaram-me que tinha que falar em Francês e que uma senhora do grupo traduzia depois para Grego.

O passeio começou muito bem. Palácio de Queluz e depois Sintra. No Palácio da Vila começaram os primeiros sinais de insubordinação. Uns casais decidiram ir ver as lojas à hora a que deviam estar de volta ao autocarro. Quando vieram gerou-se a primeira discussão entre os que tinham vindo a horas e os que tinham andado a passear.



Seguia-se a visita ao Palácio da Pena. E aqui as coisas complicaram-se a valer. Alguns regressaram ao autocarro à hora marcada, outros foram aparecendo quando lhes apetecia e houve ainda dois casais que simplesmente não apareciam.


Ora o percurso ainda incluía uma volta pelo Guincho antes de regressar a Lisboa e já se estava a fazer tarde. No autocarro o ambiente estava a aquecer.


Quando os retardatários finalmente apareceram nem queiram saber: Gritavam todos uns com os outros e o motorista do autocarro, também grego, gritava com eles. E eu, no meio daquilo tudo, sem perceber patavina do que diziam, embora deduzisse.


A minha interlocutora tentava explicar o que se estava a passar e pedia-me desculpa. Explicou que os gregos eram um bocado temperamentais. Anos mais tarde, quando comecei a ir regularmente à Grécia, percebi que “temperamentais” era apelido!


A discussão dizia respeito ao que devíamos fazer a seguir, uma vez que já não era possível cumprir o programa inicialmente previsto. A certa altura o motorista, que não era dos que berravam menos, pôs o motor a trabalhar e arrancou.


Passei então por uma das experiências mais assustadoras da minha vida. O homem, furioso, descia por aquelas estradas da Serra de Sintra como se estivesse a disputar o rallye de Portugal. Nem sequer abrandava nas curvas apertadas. Muitas vezes roçava pelos muros que ladeavam a estrada e chegava a arrancar pedras. Lá dentro todo o mundo berrava.


O regresso a Lisboa foi um pesadelo, com todos zangados uns com os outros e comigo sem ter a menor ideia do que devia fazer. Quando chegamos ao hotel em Belém onde estavam hospedados respirei fundo.


Apareceu-me então o guia oficial do grupo, com um ar muito repousado que me perguntou com um ar um pouco irónico como tinha corrido o passeio.

Contei-lhe tudo e ele, sorridente disse que por isso é que tinha declarado que não se sentia bem naquele dia. Simplesmente já não os podia aturar mais.

Se alguém quiser saber por que razão se usa a expressão “ver-se grego” falem comigo que eu explico.


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