Este texto descreve a viagem de barco entre Nova Iorque e Roterdão no final do ano que passei nos Estados Unidos. Os passageiros eram os jovens de todo o mundo que tinham passado um ano na América. Agora podem imaginar, não podem?
Foi retirado do meu Diário e traduzido para Português. Não sei se sabem mas o meu Diário está escrito em Português até ao dia 31 de dezembro de 1956 e em Inglês a partir daí.
Partimos a 26 de Julho de 1957 e chegámos a Roterdão no dia 3 de Agosto. O barco era o Arosa Sky.
“Partimos por volta do meio-dia mas deixei passar a Estátua da Liberdade porque estava entretido com uma rapariga alemã, a Waleska. O Sky tem o dobro do tamanho do barco que me trouxe e é muito mais luxuoso e limpo. No meu camarote somos quatro”.
No dia em que fiz 17 anos. Sou o terceiro da direita.
Segue-se a descrição da viagem, feita no dia em que chegámos a Roterdão.
“Diverti-me à grande no Sky! Foi demais! Ia para a cama de madrugada e só me levantava para almoçar.
Escolheram-me para o Student Council e o Entertainment Committee, mas só apareci nalgumas reuniões. Havia todos os dias pannel discussions sobre os mais variados temas, para procurar equilibrar com temas sérios o que acontecia a partir de certa hora.
Os temas eram sobre os jovens americanos e os dos outros países, comparação de escolas e coisas no género, mas também falámos da situação no Canal do Suez e na Hungria.
Os filmes a bordo eram ótimos. High Society, Kismet, Love me or leave me, entre outros.
Entrei num torneio de ping-pong mas fui logo eliminado na primeira eliminatória pelo tipo que acabou por ganhar o torneio.
Para além de bailes todas as noites houve ainda um talent show, um fashion show e um baile de máscaras. O mais cómico foi o Tomás, um português com o dobro do meu tamanho, que vestiu um fato de banho feminino.
O Arosa Sky. Deve ter saído daqui a ideia da série "O barco do amor"
Claro que fui confraternizando com as raparigas. Andei primeiro com a Grete, mas na noite dos meus anos conheci a Therèse, uma suíça, com quem passei noites muito agradáveis. Claro que não fiquei por ali, fui travando novos conhecimentos todas as noites. Nalgumas um steward descobria-me e corria comigo dos camarotes. Recordo especialmente uma finlandesa, uma espanhola uma turca e algumas norueguesas.
As despedidas quando chegámos a Roterdão foram qualquer coisa. Todos a chorar agarrados uns aos outros.
Em Roterdão apanhámos um comboio até Paris. Além de nós vinham também o grupo francês e o espanhol. Os compartimentos tinham bagagem até ao teto.
De Paris a Madrid foi ainda pior. Dois rapazes portugueses foram detidos na fronteira de Espanha, por causa dos passaportes. De Irun até Madrid fomos de autocarro. Em Madrid apanhámos um comboio noturno para Lisboa, onde chegámos no dia 6 de Agosto”
E aqui termina o relato da viagem, que procurei não deturpar. Espero que ninguém tenha ficado chocado. Afinal eu tinha acabado de fazer 17 anos, o que é que esperavam?
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