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O roubo da gabardina

No final dos anos sessenta, andava eu nos vinte e muitos, encantei-me com uma gabardina que, na altura, era bastante invulgar e comprei-a. Tinha um aspeto algo militar eu chamava-lhe a minha gabardina James Bond.


Nessa altura tinha uma vida noturna própria de alguém na casa dos vinte. Qualquer evento mais apelativo e lá ia eu.


Ia muito a Cascais à noite, normalmente na companhia de um amigo que também não gostava de ficar em casa. Íamos normalmente no carro dele, que era bastante melhor que o meu. Só que o Toni, era António, como eu, era a pessoa mais descuidada que já conheci. Uma das suas caraterísticas era nunca se preocupar em deixar as portas do carro trancadas.


Certa noite, como não chovia nem fazia muito frio, deixei a gabardina no carro enquanto íamos a um bar de que ambos gostávamos. Claro que quando regressámos a gabardina já era!

Claro que fiquei chateado e com muita pena, mas o que é que eu podia fazer?


Nessa altura trabalhava no Comissariado do Turismo, que mais tarde deu origem ao Turismo de Portugal, nos Restauradores. Certa tarde de inverno decidi ir dar uma volta pelo Chiado antes de regressar a casa. Fazia-o com frequência.


Preparava-me para atravessar para a placa central do Largo de Camões quando, no meio das pessoas que atravessavam na minha direção, vejo a minha gabardina. Com um rapaz lá dentro, claro.

O tipo atravessou direito a mim pois não devia ter a mínima ideia de quem era o dono da gabardina. Agarrei-o por um braço, assim que se aproximou e em voz baixa, para não chamar a atenção, disse: Essa gabardina é minha!


Olhou para mim assustado e nem tentou escapar, mas eu agarrava-o com força, sem dar muito nas vistas. Como não queria criar aquelas situações a que quem não tem nada que fazer gosta de assistir levei-o até um prédio próximo que tinha a porta aberta.

O rapaz, devia ter à volta de 20 anos, tentou explicar-me que a gabardina era de um amigo que lha tinha emprestado. Balbuciou mais uma série de desculpas mas eu disse-lhe: Deixa-te de tretas, estás cheio de sorte por eu não te ter obrigado a tirá-la em público. Mas agora vais tirá-la e depois põe-te na alheta.


E lá voltou a gabardina ao seu dono legítimo.


Regressei a casa satisfeito, pois tinha acontecido algo com que nunca tinha contado. Recuperara a gabardina. No entanto dei-me conta que levava uma gabardina vestida e outra no braço. Muita gente olhava para mim, pois quem parecia que tinha andado a colecionar gabardinas dos outros era eu!


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