No meu livro Facing Challenges já abordei esta questão. Ver o capítulo “Falar outras línguas” na página 109.
No entanto houve algumas que, por serem um pouco mais fortes, ficaram por relatar. Vou fazê-lo aqui e agora e espero que ninguém fique chocado com algumas palavras.
Brasil
Das confusões entre portugueses e brasileiros já aprendemos há muito tempo que na paragem do autocarro não se diz a um brasileiro “põe-te na bicha”, nem no Brasil numa loja se pergunta a quem nos atende se “pode meter no saco”.
Um sítio, para um brasileiro, é uma casa de campo.
Espanhol
Vamos agora ao Espanhol. Certo dia ao chegar ao hotel em Madrid o rececionista perguntou: “Su nombre” e eu respondi ”Valadas”. Então perguntou “Y de pila?” Raciocinei rápido “Não, não pode ser isso que ele quer saber!” pelo que respondi “António”. Acertara! Mais tarde um colega espanhol explicou que era um termo já pouco usado mas significava de batismo, pia batismal.
Numa noite também em Madrid fui com um grande grupo de colegas de vários locais de Espanha a uma discoteca. O grupo tinha muito mais senhoras que homens, pelo que as espanholas nem me deixavam descansar. Nessa noite já estava um bocado cansado e numa música muito mexida disse ao meu par “hoy me siento muy perro”. Olhou para mim estarrecida, se calhar com medo que eu estivesse com instintos caninos inconfessáveis.
Entre espanhóis e sul-americanos há problemas idênticos aos que existem entre portugueses e brasileiros. Certa vez Sara Montiel uma atriz espanhola muito conhecida, há muitos anos atrás, estava a ser entrevistada em direto na televisão argentina quando o entrevistador lhe fez uma pergunta mais difícil. Sara pestanejou, olhou para o locutor e respondeu “Pues, me cojes desprevenida”. Só que o verbo “cojer” na Argentina, significa outra coisa. Na Argentina no dia seguinte não se falava noutra coisa.
Eu pertencia a uma organização internacional e certa vez, à porta de um hotel no Estoril, o representante de Espanha, meu conhecido, perguntou-me por uma colega da Suíça que também ia participar naquela Conferência. Eu tinha chegado do Norte e por acaso havia encontrado a senhora a visitar uma igreja em Braga, pelo que disse” Brigite, la he visto en Braga”. Gargalhada geral do grupo espanhol. “Has visto Brigite en bragas! Que bien!”
Apelidos
De Itália já falei no livro do verbo ficar e das minhotas e da Grécia do problema de alguém com o apelido Malaquias.
Mas também há problemas com apelidos de outros países. Acontece que o espanhol que fez troça de mim mais atrás participou certo dia num congresso mundial que teve lugar no Rio de Janeiro em que eu participava também. Ora o apelido dele era Buceta. Agora imaginem os brasileiros o que foi a galhofa no hotel quando os altifalantes chamaram aos berros o senhor Buceta para ir à receção!
Noutra organização internacional a que eu também pertencia, eu pertencia a muitas, como já devem ter depreendido, havia uma representante do Egito que tinha um apelido que fazia com que sempre que ela falava nas conferências eu e a representante do Brasil olhássemos um para o outro e desatássemos a rir. Chamava-se Mona Foda.
Em Novembro de 1988 organizei uma Eurafme Conference em Portugal, num hotel do Estoril. Eurafme significava países da Europa, Africa e Médio Oriente. E convidei a dita Mona, que aliás até tinha um cargo de relevo a nível internacional, no Board of Trustees. Tinha feito previamente o room arrangement e estava tudo em ordem, sem falhas, como eu gosto.
Na véspera do início da conferência telefona-me uma menina da receção do hotel a dizer que havia uma senhora que queria mudar de quarto, porque queria um com vista para o mar. Perguntei-lhe o nome e a rapariga engasgou. Por mais que eu insistisse ela não dizia nada. A certa altura fez-se luz no meu cérebro. “É uma senhora egípcia com um nome …esquisito?” perguntei. É sim, disse a rapariga, decerto aliviada.
E lá ficou a Mona F., como era conhecida no meu escritório, com vista para o mar.
Nos Estados Unidos
Os estudantes que eu enviava para os Estados Unidos tinham vários problemas com palavras que tinham aprendido num Inglês mais britânico mas que nos EUA significavam outra coisa.
Um dos problemas era com a borracha, que nos States de diz eraser. Rubber usa-se nas relações sexuais. Certo dia uma aluna portuguesa provocou grande borborinho na sala de aula, a ponto de o professor lhe perguntar qual era o problema. Elas respondeu “I just asked for a rubber”, perante a gargalhada geral ela acrescentou “I only needed it for a moment, then I would give it back”. Já não houve mais aula nesse dia!
Certo dia um estudante que estivera a praticar desporto ao chegar a casa da família americana disse em voz alta “I’m dirty, I need a douche!” Escândalo na família. “Douche” na América é uma lavagem íntima das pessoas do sexo feminino.
E depois há o problema com o galo. Nós aprendemos cock, mas os americanos dizem rooster. Cock,nesta altura,o já toda a gente sabe o que é.
Só que não o sabia há uns quarenta anos atrás uma jovem portuguesa quando, falando das tradições portuguesas aos colegas numa excursão a New York, lhes referiu o galo de Barcelos, “the famous Portuguese cock”. Todo o autocarro riu à gargalhada, o que a deixou furiosa, pensando que não acreditavam no que estava a dizer.
Aconteceu que passaram em frente à Casa de Portugal que tinha um enorme galo de Barcelos na montra. A Ana, excitadíssima, gritou: “Look, there’s a Portuguese cock!” Perante as gargalhadas dos colegas reagiu furiosa:
“Why are you laughing? Do you think I don’t know a Portuguese cock when I see one?”
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