Hoje, no meu habitual e longo chuveiro matinal (ver artigo “Go take a shower” no blog), recordei um episódio passado há poucos dias com um condutor de Uber (mais um!)
Isso e a campanha eleitoral conduziram-me a mais uma das minhas reflexões aquáticas que está na origem do que vou escrever.
Creio já ter dado suficientes provas, ao longo da minha vida, do meu interesse por tudo o que é “diferente”.
Só sou intolerante para com a intolerância.
Bom, vamos lá a ver, não é bem assim. Tenho uma enorme falta de paciência para aturar durante muito tempo pessoas estúpidas ou chatas. E elas, coitadas, não têm culpa. É falha minha.
Também as que apregoam como sendo uma grande qualidade o facto de ninguém as fazer mudar de ideias me deixam incomodado. Significa que, a partir daquele momento, a sua capacidade de raciocinar, analisar, avaliar, bloqueou. Pararam!
Vivemos num mundo em permanente mudança, cada vez mais acelerada e a mentalidade “no meu tempo é que era bom” não nos ajuda a adaptarmo-nos a uma realidade que tem pouco que ver com a que conhecemos em crianças, sobretudo quando já ultrapassámos a casa dos sessenta.
Costuma dizer-se, e não está muito longe da verdade, que as pessoas mudam de casa, de emprego, de cidade, de nacionalidade, de situação marital, de partido, de religião, de preferência sexual e até mesmo de sexo, mas ninguém muda de clube.
No meu caso, até mesmo em termos clubísticos sou bastante tolerante. Basta para isso ler o capítulo “Um Leão entre as Águias” no meu livro.
Não obrigo as pessoas a pensarem como eu, a terem os mesmos interesses ou convicções. Pelo contrário, sempre manifestei interesse por culturas diferentes da minha, por pessoas com ideias diferentes das minhas. São esses contactos que me enriquecem a mente e alargam os horizontes, me fazem compreender e admirar a diversidade e riqueza do mundo em que vivemos.
Aquele encontro regular com um grupo de amigos que pensa e age exatamente como nós pode dar-nos uma segurança adicional por nos sentirmos acompanhados, mas raramente traz alguma coisa de novo.
Ora bem, vamos lá então ao episódio que vou relatar, pois contraria certas convicções e generalizações em termos de avaliação de outras raças.
Na quarta-feira regressei a casa de Uber, como vai sendo o meu hábito. Nada de especial a relatar sobre a viagem, para além do facto de ter vindo a apreciar a paisagem da Marginal, o que, quando vou a guiar, não posso fazer plenamente.
Chegado a casa saí e quando metia a chave na porta da rua ouvi muitas buzinadelas. Olhei e vi que eram do carro que me tinha trazido, parado junto à esquina. Pensando que estava a buzinar para outro carro preparava-me para entrar quando o condutor baixou o vidro e gritou: Sr. António, sr. António!
Aproximei-me e percebi. Tinha deixado o meu telemóvel no assento do carro!
Já imaginaram o transtorno que esta distração me poderia ter causado? O homem, se só se tivesse dado conta mais tarde não podia contactar comigo, pois a única forma de o fazer estava na sua mão. Ou podia até não se preocupar mais com o assunto e lá se iam todos os meus contactos profissionais e sociais, para além de todo o resto que hoje em dia trazemos armazenado naquele aparelho.
“Salvou-me a vida!” disse eu ao condutor, claro que com certo exagero.
Apenas mais um pormenor: o condutor era jovem; e preto.
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