Ao lerem o meu livro podem alguns leitores lamentar a ausência, com algumas exceções, de descrições sobre os locais que visitei. Ora bem, qualquer roteiro de agência de viagens pode fazer essas descrições e eu não pretendia entrar na categoria de “escritor de viagens”, pois há já muita gente a fazê-lo e com certeza melhor do que eu. Nas minhas viagens, em quase todas as minhas histórias, o elemento humano é o fator principal. Claro que quando visitava um país desconhecido não deixava de visitar o que podia de locais que pela sua beleza, monumentalidade ou importância histórica mereciam essa visita. Mas o que procurava, sempre que possível, era conhecer e falar com as pessoas.
Não pretendo ser crítico no que vou dizer, pois cada pessoa é como é e aprendi a lidar, aceitar e respeitar todo o tipo de pessoas, mas fazia-me uma certa confusão que no final de um congresso que se realizava em hotéis ou resorts luxuosos e que tinham muito pouco que ver com a realidade do país, grande parte dos participantes regressassem logo aos seus países. Podiam falar nas condições fantásticas que tinham encontrado em “locais de sonho”, mas não tinham a menor ideia sobre como eram e o que pensavam os habitantes desse país, que eram cuidadosamente mantidos fora dos casulos de luxo em que tinham estado.
O que eu aprendi sobre o Cambodja, quando consegui que o meu guia ficasse suficientemente à vontade para abordar assuntos sobre os quais não era suposto falar. Fiquei a saber pormenores sobre o funcionamento geral do país, o sistema de saúde, a educação, de um país como o Vietname graças a ter conseguido que os meus guias se sentissem seguros de que podiam ter confiança em mim.
Quando era mais novo fazia todas as minhas viagens sem recorrer a guias, salvo em situações em que tal era absolutamente necessário, ou não teria conseguido conhecer determinados lugares. Por vezes tive mesmo que recorrer a visitas organizadas, em que eu era apenas um de um grupo de turistas. Mais recentemente passei a recorrer mais aos guias, mas sempre que possível a guias individuais. Com esses via o que realmente me interessava, conversava e acabava por obter informações que nunca teriam dado a um grupo de turistas.
Tive guias que disseram que nunca tinham tido um cliente como eu e alguns até me convidaram para conhecer as suas famílias. Isto é o maior grau de confiança que podemos receber de alguém que acaba de nos conhecer.
Estou com 80 anos. Se a mente ainda aspira a ir a locais onde ainda não fui e ter experiências que ainda não tive, o físico e o bom senso já me dizem: António, tem juízo!
A partir de agora serei apenas um turista que ainda conserva o seu espírito de viajante.
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